sábado, 10 de maio de 2025

Conto: O Começo do Fim {Parte I}



O sol se punha devagar, tingindo o céu com tons dourados e rosados que faziam tudo parecer mais bonito, mais possível. Era sexta-feira, e Sophia estava onde gostava de estar quando a semana acabava: com os amigos, no banco velho da praça central, onde as histórias se repetiam e as risadas vinham fácil. Ali, o tempo desacelerava, como se a vida ganhasse uma segunda chance antes de recomeçar na segunda-feira.

Ela ria alto, um som limpo que saía da garganta como um sopro de liberdade. Depois de semanas tentando juntar os pedaços de si mesma, Sophia finalmente se permitira estar presente. Havia jurado que aquela noite seria diferente. Nada de lembranças de ex, nada de tristeza. Apenas ela, os amigos, umas cervejas geladas e, quem sabe, um beijo roubado de algum desconhecido bonito.

Enquanto contava uma história engraçada sobre uma paquera frustrada, seus olhos foram atraídos por um movimento do outro lado da rua. Um rapaz passou lentamente, caminhando com um certo charme distraído. Alto, de camisa preta e sorriso que parecia saber demais. Ela não o conhecia, mas havia algo nele que imediatamente capturou sua atenção. Uma aura de mistério, talvez, ou o modo como seus olhos pareciam varrer o mundo como quem procura algo — ou alguém.

Ao lado dele, um rosto conhecido. Demorou um segundo para reconhecer: Diogo. Um velho amigo dos tempos de escola, daqueles que a vida afasta com mudanças, cidades diferentes e a desculpa vaga do "cada um no seu caminho". Era estranho vê-lo ali, tão de repente, depois de tanto tempo.

Sophia o observou passar, e quando ele passou de novo, rindo com o tal garoto, sentiu algo estranho no peito. Uma mistura de ansiedade e curiosidade. Era como se o destino estivesse brincando de encruzilhada.

Na terceira vez que passaram, algo dentro dela estalou. Talvez a vontade de recomeçar, talvez o impulso de mostrar a si mesma que ainda era capaz de ousar. Num surto de coragem que ela mesma desconhecia, abriu a boca e disse, com um sorriso provocador:

— E aí, Diogo, não vai apresentar o amigo?

O silêncio que se seguiu foi instantâneo. Seus amigos a olharam como se ela tivesse acabado de saltar de um penhasco. Sophia sentiu o calor subir pelo pescoço, tingindo suas bochechas de vermelho. Por um segundo, quis desaparecer. Não era esse o plano — chamar atenção, se expor.

Diogo parou. Trocaram algumas palavras rápidas. Sophia viu o amigo olhar de lado para ela, curioso, e então os dois deram meia-volta e vieram em sua direção.

O coração dela bateu descompassado. Era como se todos os sentidos estivessem despertando ao mesmo tempo: o cheiro da noite, o som dos grilos, o toque do vento nos cabelos. Sentia-se viva de uma forma que não sentia há semanas. Havia algo de novo no ar. Algo prestes a acontecer.

E ela, sem saber, estava dando os primeiros passos em direção a uma paixão que a marcaria para sempre. Uma daquelas histórias que começam com um riso nervoso e terminam com lembranças que doem como ferida aberta.

— Rafael, essa é a Sophia, minha amiga dos velhos tempos — disse Diogo, com um sorriso fácil, quase cúmplice.

Rafael estendeu a mão, e quando os dedos se tocaram, um arrepio subiu pelo braço dela. Ele tinha olhos azuis como o mar tranquilo, daqueles que parecem enxergar além da superfície. O sorriso era gentil, mas havia nele uma sombra de tristeza, como quem também carregava seus próprios fantasmas.

A conversa entre eles começou leve, natural. Falaram de música — ele gostava de rock antigo, ela gostava de gounge. Depois falaram sobre comida — ambos apaixonados por massas. Descobriram que tinham o mesmo gosto por filmes dramáticos, os que fazem chorar e pensar. Ela ria das piadas dele, ele escutava com atenção cada palavra que ela dizia, como se fosse a única pessoa ali.

Aos poucos, a presença dele foi quebrando as defesas que Sophia jurava manter. Ela se permitiu falar mais do que deveria, rir mais alto, deixar o olhar demorar no dele. Em certo momento, Rafael perguntou, com o tom mais natural do mundo:

— Você tem namorado?

Ela engoliu em seco. O sorriso vacilou.

— Faz uma semana que partiram meu coração — respondeu, tentando soar leve, mas a dor ainda era recente demais, o corte ainda fundo.

Rafael franziu levemente a testa, como se aquilo o atingisse de algum jeito.

— Se fosse eu, nunca faria isso.

A frase, tão simples, teve um efeito devastador. Ela o olhou nos olhos, e ele retribuiu o olhar. Por um segundo, tudo ao redor desapareceu. Não havia mais amigos, praça, vento. Apenas os dois, mergulhados naquele instante. E então ele a beijou.

Foi um beijo cheio de cuidado, sem pressa. Um beijo que pedia permissão, mas também oferecia abrigo. Sophia sentiu o coração acelerar, não de medo, mas de esperança. Era como se ele dissesse, sem palavras: "Você pode confiar em mim."

A noite seguiu ainda mais leve. Rafael ficou com ela até o fim, fazendo piadas, contando histórias, acariciando seu rosto com um carinho que parecia antigo. Quando a levou até em casa, os dois conversaram o caminho inteiro, entre risos e silêncios que diziam mais do que qualquer frase. Ela tentava, em vão, conter a vontade de acreditar.

— Só… não me promete nada, tá? — ela pediu, quando ele disse que queria vê-la de novo. — Você mora longe, e eu ainda tô me curando.

Ele a olhou com seriedade, como se estivesse marcando aquelas palavras no próprio coração.

— Eu entendo. Mas eu vou te ligar. Eu vou voltar. Espera por mim. Quero continuar isso que a gente começou hoje.

Sophia fechou os olhos por um instante. Queria guardar aquele momento, congelá-lo em alguma parte segura da memória. O toque dele, o cheiro do seu perfume, o som da voz dele fazendo promessas.

Ela entrou em casa com um sorriso nos lábios e o coração aquecido por uma chama tímida. Pela primeira vez em dias, se sentia viva. Esperançosa.

Mal sabia ela que aquele beijo, aquele olhar, aquela promessa feita sob o céu noturno de uma sexta-feira qualquer… se tornariam mais tarde lembranças que queimam. Porque algumas pessoas sabem exatamente como entrar — mas nunca aprendem a ficar.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

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