Cecília era uma menina feita de sonhos. Sonhos simples, bordados em papel de carta, alinhavados com fitas de cetim, guardados como segredos em caixas floridas. Crescera entre páginas de livros que falavam de amores doces, impossíveis, encantados. Não conhecia o gosto do primeiro beijo, nem o estremecer das mãos entrelaçadas. Tinha o coração virgem de tudo, mas fértil de esperanças.
Foi numa manhã comum, dessas que não prometem nada, que encontrou a primeira carta. Estava dobrada com cuidado, deixada entre as páginas do seu caderno de literatura. O envelope era pálido, como um suspiro antigo, e dentro havia um poema — palavras simples, mas cheias de ternura. Sem remetente. Só uma assinatura no fim: M.
A princípio, pensou ser brincadeira. Alguém zombando da sua timidez, da sua maneira delicada de existir. Mas, na semana seguinte, veio outra. E mais uma, na outra ainda. As palavras, antes poemas, começaram a se tornar confidências. Pequenas histórias, observações sobre ela, detalhes que só alguém que a olhava de verdade saberia. "Seu jeito de prender o cabelo quando está concentrada me faz sorrir o dia inteiro", dizia uma. Cecília começou a esperar pelas cartas como se esperam pelos dias de sol depois de uma longa chuva.
Até que descobriu: o autor era Maurício.
Maurício era calmo, falava baixo, tinha um sorriso escondido nos cantos dos lábios e um olhar que parecia compreender o silêncio das coisas. Quando começou a conversar com Cecília pessoalmente, a conexão que antes se escondia nas cartas se materializou. Eles riam de bobagens, dividiam chocolates e confidências. Ele começou a escrever não mais versos, mas páginas de um diário apaixonado. Escrevia sobre seus sentimentos com uma doçura rara, contava os dias desde que a conheceu, falava dos medos que tinha, e de como se sentia seguro ao lado dela.
O namoro começou devagar, quase como um sussurro. Um toque de mãos, um olhar mais demorado. Ele era gentil, cuidadoso. Passava as tardes com ela, buscava-a na escola, sabia seu chocolate favorito e fazia questão de comprar sempre. Tratava-a como se fosse feita de cristal. Como se ela fosse uma princesa saída dos livros que ela lia.
Cecília vivia um sonho. Um conto de fadas sem dragões, só com jardins, doces, cartas e abraços. Mas com o tempo, algo em seu peito começou a mudar. Era sutil, mas presente. O coração já não corria desenfreado quando o via. O frio na barriga, que antes se anunciava ao menor toque de suas mãos, sumira. Ela não sabia explicar. Era seu primeiro namoro — como poderia entender?
E havia outra coisa. Maurício era tão cuidadoso, tão respeitoso, que mal a tocava. Nunca ultrapassava os limites, sequer os sondava. “Quero respeitar você”, dizia com um sorriso puro. Mas aos poucos, aquilo que antes era ternura começou a soar como distância. Cecília começou a se perguntar: ele realmente a desejava? Ou apenas gostava da ideia dela?
Essa dúvida corroía em silêncio.
Ela nunca ousou perguntar. Como poderia? Tudo era tão perfeito, tão limpo. Mas era como estar numa dança onde só um dos dois se movia. Sentia falta de algo que não sabia nomear — talvez fosse desejo, talvez fosse intensidade. Talvez só fosse a sensação de estar realmente viva.
O fim não foi dramático. Foi calmo, quase como o começo. Um olhar trocado, uma conversa sincera. “Acho que nosso tempo passou”, disse ele, com um meio sorriso triste. Ela assentiu. O coração não chorava — apenas compreendia. A chama que antes queimava agora era só uma brasa morna, quase fria.
Cecília guardou as cartas em uma caixa. Nunca leu de novo. Mas nunca jogou fora.
Porque, apesar de tudo, aquele foi o seu primeiro amor. E como todo primeiro amor, deixava saudades — não pela dor, mas pela beleza da inocência. Por tudo que foi descoberto, sentido e, acima de tudo, vivido com verdade.
Ela não era mais a mesma menina. Ainda doce, mas agora com olhos que enxergavam além das palavras bonitas. E, embora o coração não tenha acelerado mais como antes, ela sabia: um dia, aceleraria de novo. Mas por alguém que soubesse dançar com ela — e não apenas a observar como se fosse uma flor intocável.
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