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quinta-feira, 8 de maio de 2025

Conto: A Luz Que Não Se Apaga {Parte III}

 


O tempo não apagou as dores de Milla, mas ensinou-a a viver com elas. Por muito tempo, sua existência foi como caminhar descalça sobre cacos invisíveis. Cada memória, cada rosto, cada lembrança do passado recente feria um pouco mais. Ela aprendeu a andar devagar, com cautela. A fechar o peito, a não oferecer mais seu coração em bandeja para ninguém.

Bruna tinha sido o estopim. A traição definitiva. Milla, que amava com intensidade e doçura, foi apunhalada por quem mais chamava de irmã. Bruna a ridicularizou pelas costas, zombou de suas dores, roubou seus afetos e ainda a fez parecer uma louca quando ela tentou gritar a verdade. E os outros... os outros escolheram não ver. Escolheram rir junto, ignorar, e seguir como se a dor de Milla fosse invenção.

Depois disso, ela mergulhou em um casulo. Uma ausência dela mesma. Não chorava mais com tanta frequência, mas também não sorria. Passou meses desconfiando até do próprio reflexo. Se isolou não por orgulho, mas por autopreservação. Como confiar de novo, se até o amor foi usado contra ela?

Foi um sonho que despertou algo dentro dela — um lampejo da pequena Milla, aquela versão inocente e cheia de esperança que ainda existia, escondida em algum canto do peito. A menina dos olhos brilhantes, dos abraços espontâneos, da fé no melhor das pessoas. No sonho, a garotinha a olhava com tristeza e dizia:

“Você ainda pode voltar. Eu ainda estou aqui. Só preciso que você não me abandone.”

Ela acordou com o coração apertado. Mas pela primeira vez, em muito tempo, sentiu uma vontade sincera de reagir. Pequena, quase sussurrada, mas presente. E foi ouvindo esse sussurro que Milla começou a reconstruir-se, não como era antes, mas como queria ser agora: forte, lúcida, sem deixar de ser sensível.

Voltou a fazer as coisas que a faziam feliz. Passou a cuidar do corpo, da mente e da alma. Descobriu novas músicas, leu livros que a tocavam, reencontrou a escrita como forma de cura. Cada palavra escrita era um espelho limpo. Cada texto era uma conversa com a Milla que sobreviveu.

E o brilho voltou.
Dessa vez, diferente. Não era mais aquele brilho oferecido de graça, na esperança de ser amado de volta. Agora era um brilho próprio. Sereno. Firme. Impossível de apagar.

E foi aí que o passado reapareceu.

Bruna foi a primeira. Mandou uma mensagem longa, tentando parecer arrependida. Dizia que sentia saudade, que pensava nela com carinho, que queria uma chance de conversar. Pedia desculpas — ainda que sem reconhecer exatamente o que fez.

Outros seguiram o mesmo caminho. Pessoas que riram dela, que escolheram o silêncio quando ela gritava por ajuda, agora queriam se reaproximar. Alegavam arrependimento, diziam estar “mais maduros”. Justificavam que “não entenderam bem o que aconteceu”.

Mas Milla lembrava. Lembrava do vazio de estar cercada e ainda assim se sentir sozinha. Lembrava dos olhares de deboche, da negação da sua dor, do quanto teve que lutar contra si mesma para não se apagar de vez.

Ela já não sentia raiva. O tempo cicatrizou as feridas, mas o aprendizado ficou. Agora, ela reconhecia as intenções por trás dos gestos. E sabia que o interesse deles não vinha da saudade, mas do espanto: eles esperavam vê-la caída, e agora se deparavam com uma mulher de pé, mais bonita, mais segura, mais viva do que nunca.

Milla não fugiu dos reencontros. Não se escondeu. Ela não era feita de rancor — era feita de verdade. E a verdade precisava ser dita.

Quando Bruna tentou encontrá-la pessoalmente, Milla foi. Olhou nos olhos daquela que um dia foi sua confidente e falou com firmeza:

“Você não sente falta de mim. Sente falta da versão minha que te amava, mesmo quando você me feria. Mas aquela Milla morreu. O que você fez, e o que deixou de fazer, me ensinou a me amar. E eu nunca mais vou permitir que alguém me trate da forma que você me tratou.”

Bruna não soube o que dizer. Encarou Milla com uma mistura de vergonha e surpresa. Era como se não esperasse que ela tivesse se tornado tão inteira.

Outros tentaram também, com desculpas disfarçadas, conversas mansas, convites sutis. Mas Milla os tratou com a mesma serenidade firme:

“Eu perdoo. Mas não retorno. Minha paz agora é prioridade. E quem não soube me amar no escuro, não tem mais espaço na minha luz.”

E aos poucos, eles entenderam.

A lição veio silenciosa, mas profunda.
Aprenderam que nem todo pedido de desculpas dá direito ao retorno.
Aprenderam que pessoas boas também se cansam.
Aprenderam que aquela garota doce, que eles feriram, agora era mulher — e que mulheres como ela, quando renascem, não voltam mais a caber em lugares apertados.

A vida seguiu.
Milla construiu novos afetos, cercou-se de pessoas que viam nela não uma fraqueza, mas uma força. Pessoas que não fugiam diante da dor alheia. Que sabiam ouvir, acolher, respeitar.

E a luz dela continuou a brilhar.
Não como farol para os outros, mas como lar para si mesma.

Na solidão, aprendeu que basta uma só pessoa acreditar para que tudo recomece: ela mesma.

E à noite, antes de dormir, às vezes ainda ouvia a voz da pequena Milla, sussurrando dentro dela:

“Obrigada por me deixar viver.”

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Conto: A Voz Que Sobreviveu {Parte II}



O pesadelo parecia mais real do que a vigília. Milla acordou como quem desperta de um afogamento, com o peito arfando, o corpo tenso, os olhos já cheios d’água antes mesmo de entender onde estava. O quarto escuro, com a luz pálida da lua filtrando pela fresta da janela, parecia uma extensão do sonho — ou do que ela preferia chamar de memória distorcida, porque era mais isso do que qualquer invenção noturna. Uma lembrança vestida de sombras.

Tinha sido aquela cena de novo.

Bruna.
Léo.
O beijo.
A traição.
As risadas.
O silêncio esmagador.

Mas, naquele sonho, havia mais. O que veio depois — aquilo que doeu de forma diferente, mais profunda. Milla lembrava de ter procurado seus amigos. Com o coração em frangalhos, a voz embargada, os olhos vermelhos, ela contou. Desabafou. Gritou por ajuda, por consolo, por justiça. Queria ser acolhida, compreendida. Queria alguém que segurasse sua mão e dissesse: "Você não está errada."

Mas não foi isso que aconteceu.

No sonho, assim como na realidade, as vozes vieram com crueldade disfarçada de lógica:

— “Você tá exagerando.”
— “Milla, não é tão sério assim.”
— “Nossa, que drama!”
— “Você tá inventando coisa.”
— “Isso é só ciúme.”
— “Bruna jamais faria isso com você.”

E a palavra que ficou martelando em sua mente, depois de tudo, foi a mesma que ouviu com um misto de pena e repulsa:

“Doida.”

Ela era a doida. A maluca que se iludia fácil. A que via o mundo como um conto de fadas e se desesperava quando alguém rasgava o cenário.

Mas Milla não era louca. Ela só amava demais. Só esperava o mesmo carinho que dava — e dava tanto. Com tanta vontade. Com tanta entrega. E isso, aos olhos de quem nunca sentiu profundamente, era fragilidade. Era fraqueza. Era tolice.

E naquela noite, sentada sozinha em sua cama, anos depois de tudo, ela chorou como se tudo ainda estivesse acontecendo. Como se não houvesse distância entre passado e presente. Como se sua pele ainda lembrasse do dia em que foi arrancada de si.

Os soluços vieram aos montes, desordenados, como se o corpo, cansado de guardar, decidisse finalmente colocar para fora o que carregava silenciosamente por tanto tempo. Chorava pela dor da traição. Mas chorava, principalmente, pela solidão. Por ter se sentido descartável, desacreditada, ridicularizada. Por ter sido tratada como uma criança birrenta quando, na verdade, estava despedaçada.

E, acima de tudo, chorava pela sensação de que, talvez, não existisse mesmo algo bom no mundo. Que toda bondade fosse fachada. Que toda luz escondesse uma sombra.

Ela, que sempre acreditou nas pessoas. Que via o melhor mesmo quando ninguém via nada. Que fazia carinho em quem só conhecia espinhos. Agora era só desilusão. Era só a casca do que foi um dia.

E foi nesse mergulho de dor que algo mudou. No meio da escuridão interna, como se uma pequena vela tremesse no fundo de um túnel, ela sentiu... algo. Não era uma lembrança nítida. Não era uma voz clara. Era uma presença. Um sussurro vindo de dentro.

A pequena Milla.

A Milla de antes. Aquela que usava tiaras com flores de tecido. Que pintava os dias nublados com lápis de cor. Que fazia listas de desejos em papel de caderno e acreditava, de verdade, que o mundo escutava quem sonhava.

Ela estava lá. Pequena. Frágil. Mas viva.

E falava.

— “Não se afoga mais, por favor...

Era um pedido sussurrado com amor. Um clamor silencioso vindo do fundo de sua alma.

— “Não se enterra nessa dor. Você não nasceu pra morrer em silêncio.

E pela primeira vez, em muito tempo, Milla não sentiu apenas dor. Sentiu saudade. Saudade de si. Da Milla que sorria com os olhos. Que se encantava com folhas no vento. Que escrevia cartas que ninguém lia só para espalhar amor no mundo.

Mas onde essa Milla tinha ido parar?

Ela estava soterrada. Enterrada sob camadas de desconfiança, medo, raiva e decepção. Não era culpa dela. Era defesa. Mecanismo de sobrevivência. Como quem ergue muros depois de tantos incêndios.

Mas a pequena Milla queria sair.

— “Você ainda brilha.

Milla respirou fundo. De olhos fechados, se imaginou abraçando aquela versão antiga de si. A garota que ainda acreditava. Que ainda sorria com pureza. Que ainda se jogava no mundo de olhos fechados.

E ela chorou de novo. Mas agora era um choro diferente. Um choro de reencontro.

Porque no fundo, ela sabia: ainda podia haver algo bom. Ainda podia haver beleza. Ainda podia haver amor — não o que vem de fora, mas o que nasce dentro.

Era preciso reaprender. Recomeçar. Mas não sozinha. Com ela mesma.

A pequena Milla era a lembrança de que existia esperança antes da dor. Era a prova de que o amor ainda morava nela, mesmo que escondido.

A noite passou devagar, mas algo nela se moveu. Um milímetro, talvez. Um passo imperceptível. Mas um passo.

Ela não sabia como voltar a confiar nos outros. Talvez demorasse muito. Talvez nunca fosse como antes. Mas podia confiar em si. Podia se prometer que não se abandonaria de novo.

E essa promessa era tudo o que precisava por agora.

Quando o primeiro raio de sol atravessou a janela, Milla estava desperta. Cansada, com os olhos inchados, mas diferente. Não forte ainda. Mas desperta.

Levantou, caminhou até o espelho. O rosto parecia gasto, mas havia um traço — leve, quase imperceptível — de algo antigo. Um brilho. Uma lembrança. Uma promessa.

E pela primeira vez em anos, sussurrou:

— “Eu vou voltar a brilhar.

Não pelo mundo. Não pelos outros. Mas por ela. Pela pequena Milla. Pela mulher que, mesmo ferida, ainda tinha dentro de si a força de amar.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

segunda-feira, 5 de maio de 2025

Conto: Depois do Amor: Coração em Silêncio {Parte I}


Milla sempre viveu como se o mundo fosse feito de laços. Laços de afeto, de cuidado, de presença. Desde menina, aprendera a amar antes mesmo de entender o que significava ser amada. O amor, para ela, nunca foi uma palavra presa aos rótulos românticos que os filmes vendem com promessas ilusórias. Era algo mais vasto, mais denso, mais urgente.

Ela amava os amigos com uma intensidade quase materna. Era do tipo que se levantava de madrugada para atender um chamado, que sentava ao lado de alguém em silêncio só para não deixá-lo sozinho na dor. Era aquela que preparava cartas em datas aleatórias, que se lembrava de cada detalhe, de cada gesto. Milla era feita de memória e sentimento. Uma casa de janelas abertas, onde todos podiam entrar. E muitos entravam. E muitos saíam.

Mas o que Milla ainda não sabia — ou se recusava a ver — era que nem todos os que entram o fazem com gratidão. Alguns apenas querem se aquecer um pouco, outros querem roubar a luz. E há os que entram apenas para destruir.

Bruna foi esse tipo.

A amizade com Bruna começou como quase tudo começa com Milla: com encanto. Bruna era magnética. Tinha uma presença que ocupava o espaço como uma música alta demais. Era segura, engraçada, ousada. O tipo de pessoa que faz o mundo parecer menor diante do próprio brilho. E Milla, com seu coração vasto, ofereceu abrigo.

Era estranho, às vezes, o jeito que Bruna tratava certas pessoas — com desdém, com sarcasmo — mas Milla via além. Sempre via além. Acreditava que todos tinham feridas, e que até os gestos mais frios podiam ser gritos silenciosos por afeto. Por isso nunca julgou Bruna. Nunca desconfiou.

Quando falava de seus sentimentos, era Bruna a primeira a saber. Milla acreditava que dividir a própria alma com alguém era uma forma de tornar a vida mais leve. E Bruna ouvia — com aquele meio sorriso que, à distância, podia parecer cumplicidade, mas de perto era só desprezo disfarçado.

Milla se apaixonava com facilidade. Era verdade. Mas cada paixão era sincera. Havia quem risse disso, mas ela sabia o que sentia. Era uma sensação doce e quente no peito, uma esperança silenciosa de que ali, talvez, houvesse alguém que enxergasse o que ninguém mais via nela. E quando conheceu Léo, algo foi diferente.

Léo era introspectivo. Tinha uma calma que contrastava com a agitação do mundo ao redor. Não era o mais bonito, nem o mais engraçado. Mas havia nele uma gentileza que Milla reconheceu de longe — como quem encontra, no meio da cidade, um pedaço de campo. Eles trocaram algumas palavras no intervalo da escola, riram de bobagens. E bastou.

À noite, mandou mensagem para Bruna: “Acho que me apaixonei.”

Bruna respondeu com um emoji de riso. Depois mandou: “Sério, você é muito fofa. Vai fundo.”

Milla acreditou.

E nos dias que se seguiram, viveu naquele estado de encantamento silencioso. Olhava Léo de longe, ensaiava conversas na cabeça, planejava como se aproximar sem parecer óbvia. E sempre dividia tudo com Bruna. Cada detalhe. Cada suspiro.

Até o dia em que o chão desabou.

Foi no pátio da escola. Milla ia pegar o caderno que esquecera na sala quando, ao virar o corredor, viu os dois. Bruna e Léo. Rindo. Sozinhos. Próximos demais. O tipo de proximidade que não se explica com amizade. E então, o beijo.

Não foi um beijo apaixonado. Não foi um beijo cinematográfico. Foi rápido, quase banal. Mas para Milla, foi como ver o próprio coração cair no chão e se partir em pedaços minúsculos.

Ela congelou. O mundo pareceu parar. O ar ficou pesado. As vozes ao redor sumiram. E por dentro, tudo se contorceu.

Bruna a viu. E sorriu. Um sorriso leve, sem culpa.

Mais tarde, quando Milla a procurou, ainda com os olhos em brasa e as palavras tremendo nos lábios, ouviu a sentença que selaria o fim de sua fé:

“Você se apaixona por qualquer um, Milla. Não dá pra levar isso tão a sério.”

Foi aí que tudo mudou.

As cores do mundo desbotaram. Os sons perderam o brilho. As pessoas, antes tão queridas, passaram a parecer ameaças silenciosas. Milla deixou de confiar. Não só em Bruna. Mas em todos. Nas palavras, nos gestos, nos afetos. Passou a duvidar das intenções mais simples. Até o carinho alheio virou suspeita.

Ela não chorou no dia seguinte. Nem no outro. Seu luto não foi feito de lágrimas, mas de silêncio. Um silêncio denso, sufocante, que tomou conta de tudo.

Começou a se afastar. Das pessoas. Das conversas. Da escola. Passou a responder com frases curtas. A evitar abraços. A recusar convites. O que antes era espontâneo agora virava esforço. E aos poucos, ela se tornou outra.

O amor, que antes era sua linguagem nativa, virou idioma estrangeiro.

Não deixou de amar, mas mudou como amava. Passou a esconder. A controlar. A medir. Os gestos afetuosos deram lugar à vigilância. As palavras doces foram substituídas por ironia. Era como se, para se proteger, tivesse vestido uma armadura feita de espinhos.

Milla não era mais Milla. Ou pelo menos, não a mesma.

Havia dentro dela uma saudade imensa — não de Bruna, nem de Léo, mas de si mesma. Daquela que sorria com facilidade, que acreditava nas pessoas, que dizia “eu te amo” sem medo do que viriam a fazer com isso.

Mas essa Milla agora estava soterrada.

E no fundo, ela sabia: ou reaprendia a ser vulnerável, ou passaria a vida inteira caminhando por entre ruínas.

Porque o amor, mesmo depois da dor, ainda era tudo o que ela sabia dar. Mas agora, precisava aprender a dá-lo primeiro a si mesma.

E talvez, só talvez, um dia, com o tempo, com o cuidado, com a delicadeza que sempre ofereceu aos outros — talvez conseguisse resgatar aquela Milla de dentro dos escombros.

Não para ser como antes.

Mas para ser inteira. E verdadeira. Mesmo depois do amor.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.