Desde o instante em que Rafael foi embora da cidade, depois daquele primeiro encontro mágico, Sophia mergulhou em uma espera doce e ansiosa. A cada manhã, seu coração acordava antes do corpo, esperando pela primeira mensagem. E ela sempre vinha. Longa, cheia de detalhes, cheia de vontades que pareciam se alinhar com as dela. Rafael escrevia com uma ternura rara. Falava da saudade como se fosse uma dor física. Como se a ausência dela o apertasse por dentro.
"Sonhei com você de novo essa noite."
"Não vejo a hora de te abraçar de novo, de te beijar encostado na parede da tua casa."
"Você me faz falta, Sophia. Mas é a falta boa, que dá sentido aos dias."
Cada palavra chegava até ela como uma pequena faísca. E juntas, essas faíscas reacenderam nela algo que ela acreditava ter morrido: a esperança. Não era mais apenas um jogo de beijos e promessas. Ela sentia. Sentia mesmo. Ele a fazia rir com coisas bobas, mandava áudios só com a respiração lenta dizendo que queria estar ali deitado com ela, e perguntava como foi o dia, se ela comeu direito, se estava dormindo bem.
Era carinho. Era cuidado. Era raro.
Então, quando ele disse que voltaria, mas dessa vez mais cedo do que o planejado, Sophia quase não conseguiu esconder a euforia. Contava os dias, depois as horas, até que ele chegou.
E quando ele chegou... parecia que o mundo voltava ao eixo. Rafael a envolveu num abraço tão apertado que Sophia esqueceu qualquer dor que já tivesse sentido antes. Ele tinha o dom de fazer o tempo desacelerar. Os dois se olharam e foi como se não existisse ninguém mais naquela praça. Como se tudo o que importava estivesse naquele instante.
Passaram dias colados. Beijos roubados entre risadas, mãos entrelaçadas no meio da rua, promessas cochichadas em silêncio nos cantos dos cafés. Foram ao cinema, se perderam em livrarias, tiraram fotos como se estivessem tentando eternizar o momento.
Numa dessas noites, sentados na mesma praça onde tudo começou, encontraram Bertha — a amiga que sempre esteve por perto, mas nunca por inteiro.
Ela olhou Rafael com surpresa e comentou com um sorriso enviesado:
— Nossa, ele é mais bonito do que você falou, Soph.
Sophia riu, sem notar a pontada por trás daquelas palavras. Ela não imaginava — e talvez não quisesse imaginar — que alguém que chamava de amiga pudesse esconder veneno no elogio.
— Ele é mesmo… mas ele é mais do que isso — respondeu, olhando para Rafael do outro lado da praça. — Ele me deixa segura. Me deixa leve.
E naquele momento, ela dizia a verdade mais pura que conhecia.
Rafael chegou logo depois, ofegante, sorrindo com a urgência de quem precisava estar perto. Cumprimentou Bertha com educação, mas foi em Sophia que ele mergulhou. Ficaram grudados. Era como se ele tentasse compensar os dias em que estiveram separados com cada segundo ao lado dela.
Naquela mesma semana, ele foi visitar sua casa. Conheceu sua mãe, suas irmãs. Ajudou a colocar pratos na mesa, riu das histórias da infância dela, se entrosou como se já fizesse parte da família. Sophia o observava com uma espécie de ternura silenciosa. Era como se quisesse gravar cada cena, cada gesto, para o caso de tudo aquilo acabar um dia.
Deitados no tapete da sala, fones divididos, ouviram Elis Regina cantar “Como nossos pais”. Cantaram juntos trechos soltos, entre beijos demorados e carinhos nos cabelos. Ele sussurrava frases entre as músicas, e Sophia tentava não se perder nelas:
— Eu nunca imaginei conhecer alguém como você…
— Queria te levar comigo.
— A gente vai dar certo, não vai?
E ela sorria. Mas quando as palavras vinham carregadas de promessas, o medo se acendia nela.
— Não promete, Rafael… — ela dizia, com os olhos baixos. — Só… vive isso comigo. Sem prometer o que a gente não pode controlar.
Ele tocava o rosto dela com delicadeza, como se quisesse apagar qualquer lembrança de dor.
— Eu prometo só se for de verdade.
Foi uma tarde leve. Do tipo que ela contaria mil vezes no futuro. E, infelizmente, ela contaria mesmo. Como quem conta uma história bonita que ninguém acredita, porque o final parece não combinar com o começo.
Quando chegou a hora dele ir embora, não quis carro, não quis pressa. Disse que queria ir a pé até a casa do primo. E foi. Foi como se fosse parte de um filme. Rafael andando de costas, acenando, jogando corações com as mãos no ar, dizendo:
— Já tô com saudade!
— Você me deu o melhor fim de semana da vida.
— Não esquece de mim, hein?
Ela ria e mandava beijos de volta. Ficou parada na calçada até não vê-lo mais. Até o vulto dele sumir no fim da rua.
E ela, com o coração transbordando, nem imaginava que aquele era o último momento dos dois. A última vez que ele olharia para trás.
O que Sophia não sabia é que, enquanto ela gravava aquela cena como uma lembrança preciosa, do outro lado, em silêncio, já começava a nascer o abandono. O esquecimento. E uma traição onde menos esperava.
P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.
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