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terça-feira, 27 de maio de 2025

Conto: A Loba Branca do Vale da Névoa

 

Dizem que, nas terras distantes onde o inverno nunca termina, existe um vale escondido entre as montanhas de gelo, envolto por neblinas eternas e silêncios ancestrais. Ali, onde a luz do sol é apenas um sussurro pálido no céu, vive uma criatura de lenda — a Loba Branca.

Ela é chamada de Nyara, que na língua antiga das estrelas significa “a que guarda os sonhos”.

Ninguém sabe ao certo de onde veio. Alguns dizem que nasceu da primeira neve, quando o mundo ainda era jovem e os ventos cantavam os nomes dos deuses. Outros juram que ela é o espírito de uma princesa traída, transformada em loba por uma feiticeira invejosa. Mas todos concordam em uma coisa: quem a vê, jamais esquece seus olhos — profundos, como lagos congelados, e tão antigos quanto o tempo.

Nyara vivia sozinha. Suas pegadas não deixavam marca, e seu uivo era tão belo que fazia as aves se calarem para ouvi-la. Diziam que a loba caminhava pelas madrugadas entre os pinheiros, recolhendo sonhos despedaçados que escapavam das janelas dos que choravam dormindo. Ela os levava em sua boca, com delicadeza, e os enterrava sob a lua, como quem planta flores invisíveis.

O vale onde morava passou a ser conhecido como Vale dos Corações Partidos, porque era para lá que iam os viajantes cansados da dor — jovens que haviam perdido seus amores, velhos solitários, crianças órfãs de esperança. E sempre que alguém se perdia entre a névoa, Nyara os encontrava. Mas não se aproximava.

A loba branca observava à distância, protegendo em silêncio. Às vezes, deixava pegadas ao redor da fogueira de algum andarilho solitário, para que ele soubesse que não estava só. Outras vezes, depositava ao lado de um sono inquieto um galho florido que não deveria existir naquele inverno eterno — e, de alguma forma, aquilo bastava para renovar a coragem de viver.

Certa noite, uma jovem de cabelos escuros e olhos sem luz subiu as montanhas sem olhar para trás. Seu nome era Elara, e o mundo a havia esvaziado. Traída, abandonada, invisível. Ela não falava com ninguém havia semanas. Apenas caminhava. Seus pés sangravam, seus olhos não choravam mais. Queria desaparecer onde ninguém mais pudesse encontrá-la.

Quando chegou ao Vale da Névoa, o frio a envolveu como um véu. Elara deitou-se entre as raízes de uma árvore congelada e murmurou:

— Que a neve me leve.

Mas a neve não a levou.

Naquela noite, Nyara se aproximou pela primeira vez de um humano. A loba branca deitou-se ao lado da jovem e repousou a cabeça sobre seu peito, sentindo o coração quase silenciar. E ali ficou. Uma noite inteira. Uma noite sem vento, sem lua, sem medo.

Elara, em seu meio-sono, sonhou com uma loba de pelagem cintilante caminhando sobre as nuvens. Sonhou com um campo de flores geladas que sussurravam palavras de ternura. Sonhou com uma canção sem som que aquecia por dentro.

Quando acordou, Elara não estava mais sozinha.

Passaram-se dias. Elara reaprendeu a viver. Falava com as árvores, recolhia frutos invisíveis, sorria para os corvos. Nyara nunca mais se mostrou, mas Elara sentia sua presença em cada brisa, em cada raio pálido de sol que ousava romper a névoa.

Dizem que Elara deixou o vale um ano depois, mas nunca contou a ninguém o que realmente viveu. Tornou-se curandeira, ajudava os que não viam mais cor nas coisas, e pintava lobas brancas em cada parede das vilas por onde passava.

E dizem que, quando a neve começa a cair antes do tempo, é porque Nyara está por perto — recolhendo os cacos das almas que o mundo quebrou, sussurrando a esperança onde ninguém mais ousa buscá-la.

Pois no fundo, todos carregam um pouco do Vale da Névoa dentro de si.

E, quem sabe, uma loba branca a velar por seus sonhos.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.