Era sempre o mesmo olhar. Aquele olhar que dizia tudo sem precisar dizer nada. Ela o via em sonhos, como se a vida dela começasse a existir de verdade quando os olhos se fechavam à noite. O nome dele, ela nunca soube ao certo, mas no mundo onírico ela o chamava de Theo. Já ele, em outro canto da cidade, adormecia com ansiedade não pelo descanso, mas pela esperança de reencontrá-la. Em seus sonhos, ela era Elisa, nome que ecoava como uma canção suave entre as árvores que sempre os cercavam.
No mundo real, Elisa era uma jovem reservada, que gostava de andar com fones de ouvido e olhos atentos às nuvens, como se buscasse nos céus alguma resposta que a terra ainda não tinha dado. Trabalhava em uma livraria de bairro, onde passava os dias entre páginas e silêncios, enquanto a noite lhe trazia o consolo da presença de Theo — aquele que a fazia rir sem esforço, que segurava sua mão com ternura e que, mesmo sem jamais dizer "eu te amo", deixava tudo isso escancarado no jeito como a olhava.
Theo, por sua vez, era designer gráfico, alguém que via beleza nos detalhes e no imperfeito. Vivia cercado de telas e projetos, mas nada o inspirava mais do que as cenas que vivia ao fechar os olhos. Elisa era sua musa, embora ele sequer soubesse se ela realmente existia. Durante o dia, tentava esboçar o rosto dela, mas os traços escapavam como água entre os dedos. Só em sonho ele a via com nitidez. E com amor.
Foram anos assim. Sonhos entrelaçados, vidas separadas. Até que, num sábado ensolarado de maio, ambos decidiram ir ao parque — um refúgio de silêncio, verde e leveza que ambos frequentavam em horários diferentes, sem saberem disso. Naquele dia, algo em Elisa a fez mudar a rotina; saiu de casa mais tarde, sem fones de ouvido, como se seu corpo pressentisse que o silêncio daquele momento precisava ser total.
Theo também mudou o percurso. Em vez de pegar a trilha mais movimentada, resolveu caminhar pelo caminho das cerejeiras, um atalho florido e menos visitado.
E então, aconteceu.
Elisa andava distraída, os olhos perdidos na dança lenta das pétalas que caíam das árvores, quando sentiu um arrepio. Parou, sem entender. Foi quando o viu. Ele estava parado a poucos passos, olhando-a com o mesmo espanto silencioso que tomava conta dela.
— É você... — sussurrou ela, sem perceber que havia falado em voz alta.
Theo sentiu o coração descompassar. Aquela era a voz que o embalava nos sonhos. Aqueles olhos, aquele sorriso. Era ela. Era Elisa. Sem maquiagem, sem fantasia, sem dúvida.
— Eu te conheço... — ele respondeu, com a voz embargada de emoção.
O mundo parou por um instante. As árvores balançavam suavemente, como se soubessem que algo sagrado estava se concretizando. Eles não se tocaram de imediato, apenas se olharam — como faziam nos sonhos. Havia um reconhecimento profundo, como se o tempo estivesse apenas aguardando aquele encontro para enfim se permitir acontecer.
Sentaram-se no banco sob a cerejeira mais velha. Começaram a conversar como velhos amigos, como quem retoma uma conversa interrompida na noite anterior. Riram, se emocionaram, contaram as coincidências — ou seriam destinos? — que os haviam guiado até ali. Ambos confessaram sobre os sonhos, sobre os nomes que haviam se dado. Theo. Elisa. Como se em algum lugar, alguma força maior já soubesse quem eram, antes mesmo deles saberem.
Naquela tarde, sob o céu salpicado de rosa, eles perceberam que os sonhos haviam sido apenas o início. Uma preparação silenciosa para algo que finalmente ganhava forma. Era o início de uma história que já havia começado há muito tempo, só que em outro plano.
E o mais bonito de tudo era saber que, agora, não precisariam mais dormir para se encontrarem.
Pois o sonho, enfim, tinha despertado com eles.
P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.