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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Conto: Quando a Lua Nos Tornou Um


Numa terra onde os ventos sussurravam segredos aos pinheiros antigos e os riachos cantavam histórias esquecidas, vivia um lobo solitário. Ele era conhecido entre os espíritos da floresta como Makwa, o "urso" em língua Ojibwa, embora fosse, de fato, um lobo. O nome lhe fora dado por sua alma protetora e silenciosa, tão forte quanto a de um urso e tão solitária quanto a última estrela antes do amanhecer.

Makwa não era um lobo comum. Nas noites em que a lua cheia tocava o lago com dedos de prata, ele tomava a forma de homem — alto, de cabelos escuros como o céu sem lua, com olhos que guardavam a sabedoria dos antigos. Era amaldiçoado — ou talvez abençoado — por um antigo xamã, para viver entre dois mundos: o dos homens e o das feras.

Foi numa dessas noites que Makwa a viu pela primeira vez.

Ela dançava entre as árvores, com os pés descalços e o vestido feito de linho simples rodopiando ao seu redor como névoa. Seus cabelos eram longos e escuros, adornados com penas e pequenas conchas colhidas do rio. O povo da aldeia a chamava de Ahyoka, "aquela que traz felicidade", e diziam que ela falava com os cervos, ria com os esquilos e chorava com as árvores quando uma delas era ferida. Ela era filha da floresta — não de sangue, mas de alma.

Makwa, mesmo em forma de lobo, mantinha distância. A observava com o respeito de um espírito guardião. À noite, a seguia em silêncio quando ela colhia ervas ou cantava para as flores. Ela nunca soube que era protegida. Ou talvez soubesse, pois às vezes, ao vento, dizia:

— Obrigada, espírito das sombras. Eu sinto você.

Certa manhã de outono, quando a névoa ainda se pendurava preguiçosa entre os troncos, Makwa caiu em uma armadilha de ferro, deixada por caçadores que vinham de terras distantes e não honravam a floresta. A mandíbula cruel de aço apertou sua perna traseira e ele uivou de dor, um uivo que partiu o silêncio como uma flecha.

Ahyoka ouviu.

Ela correu para a origem do som, o coração batendo mais pelo instinto do que pelo medo. Quando o encontrou, viu o lobo enorme, ferido, os olhos de âmbar implorando não por vida, mas por confiança. Muitos fugiriam, mas Ahyoka se ajoelhou ao lado da fera. Suas mãos, pequenas e ágeis, trabalharam rápido para soltar o mecanismo. Ela murmurava canções de cura enquanto o libertava, tocando-o com ternura e coragem.

Makwa, mesmo em dor, lambeu sua mão. Ele não fugiu. Permaneceu. E quando ela disse:
— Venha comigo, espírito da floresta.
Ele seguiu.

Assim nasceu um vínculo que a própria Mãe Terra sorriu ao ver.

Durante semanas, Ahyoka cuidou dele em uma cabana escondida, onde flores de cura cresciam ao redor da porta. Ela lhe dava raízes amargas para a febre e folhas doces para o sono. E todas as noites, o lobo se deitava aos seus pés, os olhos semicerrados, em paz.

Makwa queria revelar-se. Queria que ela o conhecesse como homem, mas temia assustá-la. Temia quebrar o encanto delicado que os unia.

Foi numa noite de lua cheia que a decisão foi tomada.

Ela estava sentada perto do fogo, penteando os cabelos e cantando para a lua uma canção de sua avó. Makwa saiu da cabana e, sob a luz prateada, deixou a transformação acontecer.

Quando Ahyoka o viu retornar não mais como lobo, mas como homem, ela ficou em silêncio. Ele se aproximou devagar, sem palavras, e se ajoelhou.

— Eu sou Makwa, espírito da noite, condenado a vagar entre homem e fera. Mas foi você que me curou, não apenas da carne, mas da alma. Não vim pedir amor — apenas que saiba quem sou.

Ahyoka, com os olhos cheios de brilho e mistério, sorriu.

— Eu já sabia. — ela disse. — O lobo que protege também é homem. E o homem que sente a floresta é parte dela. Eu ouvi teu coração mesmo quando não o via.

E ali, sob a bênção da lua e o canto distante de um corvo, dois seres que não pertenciam a canto nenhum encontraram lar um no outro.

Desde então, dizem os anciãos, que em noites em que o nevoeiro dança e a lua canta, um lobo e uma mulher caminham juntos entre as árvores. E que seu amor não conhece forma — apenas essência.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.