Bruna tinha sido o estopim. A traição definitiva. Milla, que amava com intensidade e doçura, foi apunhalada por quem mais chamava de irmã. Bruna a ridicularizou pelas costas, zombou de suas dores, roubou seus afetos e ainda a fez parecer uma louca quando ela tentou gritar a verdade. E os outros... os outros escolheram não ver. Escolheram rir junto, ignorar, e seguir como se a dor de Milla fosse invenção.
Depois disso, ela mergulhou em um casulo. Uma ausência dela mesma. Não chorava mais com tanta frequência, mas também não sorria. Passou meses desconfiando até do próprio reflexo. Se isolou não por orgulho, mas por autopreservação. Como confiar de novo, se até o amor foi usado contra ela?
Foi um sonho que despertou algo dentro dela — um lampejo da pequena Milla, aquela versão inocente e cheia de esperança que ainda existia, escondida em algum canto do peito. A menina dos olhos brilhantes, dos abraços espontâneos, da fé no melhor das pessoas. No sonho, a garotinha a olhava com tristeza e dizia:
— “Você ainda pode voltar. Eu ainda estou aqui. Só preciso que você não me abandone.”
Ela acordou com o coração apertado. Mas pela primeira vez, em muito tempo, sentiu uma vontade sincera de reagir. Pequena, quase sussurrada, mas presente. E foi ouvindo esse sussurro que Milla começou a reconstruir-se, não como era antes, mas como queria ser agora: forte, lúcida, sem deixar de ser sensível.
Voltou a fazer as coisas que a faziam feliz. Passou a cuidar do corpo, da mente e da alma. Descobriu novas músicas, leu livros que a tocavam, reencontrou a escrita como forma de cura. Cada palavra escrita era um espelho limpo. Cada texto era uma conversa com a Milla que sobreviveu.
E o brilho voltou.
Dessa vez, diferente. Não era mais aquele brilho oferecido de graça, na esperança de ser amado de volta. Agora era um brilho próprio. Sereno. Firme. Impossível de apagar.
E foi aí que o passado reapareceu.
Bruna foi a primeira. Mandou uma mensagem longa, tentando parecer arrependida. Dizia que sentia saudade, que pensava nela com carinho, que queria uma chance de conversar. Pedia desculpas — ainda que sem reconhecer exatamente o que fez.
Outros seguiram o mesmo caminho. Pessoas que riram dela, que escolheram o silêncio quando ela gritava por ajuda, agora queriam se reaproximar. Alegavam arrependimento, diziam estar “mais maduros”. Justificavam que “não entenderam bem o que aconteceu”.
Mas Milla lembrava. Lembrava do vazio de estar cercada e ainda assim se sentir sozinha. Lembrava dos olhares de deboche, da negação da sua dor, do quanto teve que lutar contra si mesma para não se apagar de vez.
Ela já não sentia raiva. O tempo cicatrizou as feridas, mas o aprendizado ficou. Agora, ela reconhecia as intenções por trás dos gestos. E sabia que o interesse deles não vinha da saudade, mas do espanto: eles esperavam vê-la caída, e agora se deparavam com uma mulher de pé, mais bonita, mais segura, mais viva do que nunca.
Milla não fugiu dos reencontros. Não se escondeu. Ela não era feita de rancor — era feita de verdade. E a verdade precisava ser dita.
Quando Bruna tentou encontrá-la pessoalmente, Milla foi. Olhou nos olhos daquela que um dia foi sua confidente e falou com firmeza:
— “Você não sente falta de mim. Sente falta da versão minha que te amava, mesmo quando você me feria. Mas aquela Milla morreu. O que você fez, e o que deixou de fazer, me ensinou a me amar. E eu nunca mais vou permitir que alguém me trate da forma que você me tratou.”
Bruna não soube o que dizer. Encarou Milla com uma mistura de vergonha e surpresa. Era como se não esperasse que ela tivesse se tornado tão inteira.
Outros tentaram também, com desculpas disfarçadas, conversas mansas, convites sutis. Mas Milla os tratou com a mesma serenidade firme:
— “Eu perdoo. Mas não retorno. Minha paz agora é prioridade. E quem não soube me amar no escuro, não tem mais espaço na minha luz.”
E aos poucos, eles entenderam.
A lição veio silenciosa, mas profunda.
Aprenderam que nem todo pedido de desculpas dá direito ao retorno.
Aprenderam que pessoas boas também se cansam.
Aprenderam que aquela garota doce, que eles feriram, agora era mulher — e que mulheres como ela, quando renascem, não voltam mais a caber em lugares apertados.
A vida seguiu.
Milla construiu novos afetos, cercou-se de pessoas que viam nela não uma fraqueza, mas uma força. Pessoas que não fugiam diante da dor alheia. Que sabiam ouvir, acolher, respeitar.
E a luz dela continuou a brilhar.
Não como farol para os outros, mas como lar para si mesma.
Na solidão, aprendeu que basta uma só pessoa acreditar para que tudo recomece: ela mesma.
E à noite, antes de dormir, às vezes ainda ouvia a voz da pequena Milla, sussurrando dentro dela:
— “Obrigada por me deixar viver.”
P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.
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