quinta-feira, 15 de maio de 2025

Conto: Linhas Paralelas



Havia um tempo em que tudo parecia andar em sincronia. Passos leves, corações em compasso, olhos voltados para o mesmo horizonte. Éramos dois viajantes silenciosos, caminhando por linhas que, mesmo sem se tocarem, sabiam uma da outra. Linhas paralelas — tão próximas e tão distantes, fiéis à sua natureza de nunca colidir, mas de sempre coexistir.

Não percebíamos no começo. Era fácil crer que o caminho seria sempre claro, que o sol nasceria com doçura e as noites trariam apenas estrelas. Ríamos muito, falávamos sobre o amanhã com um brilho quase infantil. E mesmo quando não dizíamos nada, havia entre nós uma certeza muda de que seguiríamos juntos, lado a lado, na mesma estrada invisível que a vida desenhava sob nossos pés.

Mas o tempo é um escultor exigente.

Ele nos forçou a passos diferentes. Às vezes mais rápidos, às vezes trêmulos, outras vezes parados, congelados na indecisão. Vieram dias cinzentos. Noites em que a distância não era só física, mas feita de ausências, de silêncios que gritavam o que não queríamos ouvir. Vieram derrotas pequenas, mas dolorosas. Vieram as alegrias que, por alguma razão, deixaram de ser compartilhadas. E mesmo assim… mesmo assim, nossas linhas nunca deixaram de seguir. Paralelas. Imóveis em sua persistência.

Houve dias vazios. Dias em que o mundo parecia ter perdido a cor, como se a própria alma se recolhesse num canto do peito, cansada demais para sentir. Mas também houve dias cheios de esperança. Dias em que uma lembrança sua surgia como raio de sol rompendo a nuvem mais escura. Eu via seu rosto na memória e me agarrava à certeza tola — e ainda assim bela — de que nem tudo estava perdido.

A teimosia, ah... aquela teimosia gentil que nunca me deixou desistir. Ela me fazia olhar para o chão com atenção, procurando as marcas deixadas pelas nossas pegadas, mesmo quando já apagadas pelo tempo. Me fazia enxergar que, por mais que nossas trilhas parecessem seguir em direções diferentes, por mais que o mundo empurrasse com força contrária, nossas linhas ainda estavam ali. Fortes. Firmes. Vivas.

E foi assim, sem aviso, que o tempo nos devolveu a nós mesmos.

Não com estardalhaço, não como nos filmes com reencontros dramáticos. Foi silencioso. Foi no vento que soprou no rosto, naquela manhã em que te vi outra vez — não com os olhos, mas com o coração. Porque ali estavam as linhas. Cruzando. Lentamente. Inevitavelmente. Como se tivessem esperado esse exato momento para enfim se tocar.

Você veio de lá, eu de cá, e entre passos hesitantes e olhares que buscavam a coragem de um abraço, o que o tempo tentou afastar... se uniu outra vez.

Não éramos mais os mesmos. Mas ainda éramos nós.
Mais inteiros.
Mais reais.
Mais conscientes das tempestades que atravessamos, dos abismos que superamos, das dores que não nos mataram.
Agora sabíamos. As linhas que nos conduziram — com seus altos e baixos, suas retas e curvas — tinham uma razão. Cada desvio, cada separação, era apenas um caminho necessário para o reencontro.

E ali, diante do novo arco-íris que surgia no céu das nossas histórias, entendi:
As linhas paralelas não se tocam no papel.
Mas na vida... ah, na vida elas sabem o momento certo de se cruzar.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

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