sexta-feira, 6 de junho de 2025

Conto: Entre o Tocar e o Romper

 

Diziam que eles haviam nascido um para o outro.
E, de fato, por um tempo, tudo parecia confirmar isso.

A história de Isadora e Lian começou numa tarde de chuva miúda, quando ela deixou cair os livros na escadaria da faculdade e ele, com um sorriso tímido e olhos fundos demais para serem ignorados, agachou-se ao seu lado. Seus dedos se tocaram por acaso, e aquele instante — quase imperceptível — pareceu conter séculos. Era como se algo neles já se conhecesse de antes, de outras vidas talvez. Uma sensação de reencontro que nenhum dos dois soube nomear, mas ambos sentiram.

Nos primeiros meses, eram inseparáveis. Isadora, com sua alma cheia de primavera, encontrava em Lian uma sombra que não a assustava — ao contrário, a fazia querer mergulhar. Ele, com seus silêncios e olhos carregados de melancolia, sentia-se pela primeira vez compreendido. Não precisavam de muito. Bastava estarem juntos.

Falavam sobre tudo: sobre os medos, os traumas, as cicatrizes que ninguém via. Isadora tinha o coração cheio de esperanças que o mundo tentara apagar, mas ela insistia em reacender. Lian trazia dentro de si uma tempestade antiga, daquelas que ninguém nunca soube acalmar. Até que ela chegou. E ele acreditou que poderia ser diferente.

Por um tempo, foi.

Isadora passou a entender os silêncios de Lian como poesia. Ele via nela uma luz que o obrigava a acreditar que talvez a vida não fosse tão ruim. Foram se misturando, se moldando um ao outro, como se a história deles já estivesse escrita em algum lugar, esperando o momento certo para acontecer.

Mas o destino, ah… o destino é um romancista cruel.

Com o passar dos meses, o que era encanto virou inquietação. As ausências de Lian começaram a durar mais. Seus olhos antes fundos e ternos passaram a carregar uma sombra que não era só tristeza — era raiva contida. Isadora, sempre tentando salvar, foi se perdendo. Cada vez que ele se fechava, ela tentava mais. Cada vez que ele gritava, ela baixava a cabeça, jurando que era só um momento. Que ele estava machucado. Que ela podia esperar. Que o amor era paciente.

Até o dia em que ele perdeu o controle.

Foi uma discussão boba, como quase todas as outras. Algo sobre um telefone não atendido, um atraso qualquer. Mas os olhos dele estavam diferentes — escuros demais, fora de si. Isadora tentou recuar, mas ele avançou. A mão que antes afagava agora erguia-se com fúria.

Foi um tapa. Um só. Mas foi tudo.

Isadora sentiu o gosto do próprio sangue nos lábios. Ficou parada por segundos que pareceram uma eternidade. Lian, com os olhos arregalados, pareceu despertar do próprio pesadelo. Chorou, pediu perdão, caiu de joelhos. Mas já era tarde. Aquilo não podia ser desfeito.

Ela não gritou. Não respondeu. Só caminhou até a porta, com as mãos trêmulas e o rosto quente. E, antes de sair, disse baixo:

— O destino pode ter escrito o começo... mas eu escrevo o fim.

Isadora foi embora sem olhar para trás. Chorou por semanas. Chorou pela perda, mas chorou mais ainda pela esperança que teve. Pela vontade cega de salvar alguém que não queria ser salvo. Por ter acreditado que amor era sobre suportar. Por ter confundido intensidade com afeto.

Anos depois, alguém lhe perguntaria se ela ainda acreditava em destino.

Ela sorriria, com um traço de dor nos olhos, e responderia:

— Acredito sim. Mas também acredito que o destino não justifica o que fere. Nem todo amor escrito para acontecer merece acontecer até o fim.

E talvez essa fosse a maior lição que ela aprenderia na vida:
Que amor que faz sangrar nunca vale o verso mais bonito.


Que ninguém veio ao mundo para suportar, mas para florescer.
E que por mais que o universo una duas almas, há sempre a liberdade de dizer: não mais.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário