Dizem que a floresta canta àqueles que sabem escutá-la. E foi seguindo essa canção invisível que Aymaru, um jovem guerreiro da tribo Aratapu, encontrou o destino em forma de olhos dourados.
Aymaru era conhecido entre os seus como “o que fala com o vento”. Desde pequeno, ouvia as árvores, entendia os silêncios dos rios, lia o céu como se fosse um livro. Era sereno, de fala mansa e passos leves. Caçava apenas o necessário, oferecia orações à terra antes de colher qualquer fruto, e à noite, dormia ouvindo os sussurros da mata.
Em uma madrugada enluarada, enquanto buscava ervas sagradas na encosta de uma montanha, Aymaru ouviu um uivo. Não era um lamento, mas um canto solitário, tão carregado de emoção que seu coração estremeceu. Seguindo aquele som como se fosse um chamado ancestral, encontrou uma clareira escondida, onde uma figura dançava sob a luz prateada da lua.
Era Kaíra.
Tinha cabelos longos e negros como noite sem estrela, a pele de um brilho levemente prateado, e olhos dourados que lembravam os lobos que rondavam os sonhos dos antigos. Mas Kaíra não era inteiramente humana — era uma mulher-lobo, nascida do amor proibido entre uma feiticeira da floresta e um lobo branco, espírito guardião das montanhas.
Kaíra vivia entre dois mundos: o instinto da loba e o coração humano. Nunca se aproximava dos homens, pois aprendera cedo que eles temiam o que não compreendiam. Mas Aymaru não teve medo. Quando seus olhos se cruzaram, o silêncio entre eles foi mais eloquente que qualquer palavra. Ela não fugiu. Ele não atacou.
Nos dias que se seguiram, Aymaru voltava sempre à clareira. Às vezes, apenas para vê-la correr entre as árvores em forma de loba; outras, para ouvi-la cantar com uma voz que parecia nascida do vento. Falavam pouco, mas sentiam tudo.
Kaíra ensinou-lhe a linguagem dos uivos, o sentido das estrelas que guiavam os lobos, o sabor das frutas esquecidas pelos homens. Aymaru mostrou-lhe as canções de sua tribo, as histórias contadas em noites de fogueira, e o significado do toque — o calor da pele que dizia “estou aqui” sem dizer nada.
Com o tempo, o amor entre os dois floresceu como uma bromélia que brota entre pedras — improvável, mas possível.
Mas nem todas as histórias na floresta são feitas só de encantos.
Um dia, os anciãos da tribo descobriram que Aymaru visitava um ser encantado. Temeram que Kaíra fosse uma bruxa, uma armadilha das sombras. Ordenaram que o guerreiro a deixasse ou nunca mais voltasse à aldeia. Aymaru ficou em silêncio. Durante a noite, foi até a clareira e encontrou Kaíra à beira do rio, com os olhos cheios de pressentimento.
— Eles querem que eu te deixe, — disse ele, ajoelhando-se diante dela — mas como posso abandonar o que é parte da minha alma?
Kaíra chorou, e suas lágrimas cintilavam como orvalho lunar.
— Se ficar comigo, nunca mais verá os teus. A floresta será tua casa. Eu... serei teu mundo. — disse ela, entre tristeza e esperança.
Aymaru sorriu. Um sorriso calmo, feito de certezas profundas.
— O mundo é onde mora o meu coração. E ele mora contigo.
Naquela noite, sob a lua cheia, Kaíra uivou e Aymaru respondeu. Pela primeira vez, um homem e uma mulher-lobo cantaram juntos à lua, unindo espírito e carne, sangue e luar. A partir daquele momento, Aymaru desapareceu da aldeia, tornando-se lenda — o homem que se tornou lobo por amor.
Dizem que, nas noites de lua cheia, dois lobos caminham juntos pelas encostas da montanha: um de olhos dourados, outro de olhos castanhos e alma humana. Eles guardam a floresta e amam-se como vento e folha, como água e pedra — inseparáveis.
E se você tiver o coração aberto e escutar com atenção, pode ouvir a canção deles no sussurrar das árvores: uma canção de amor, selvagem e eterna.
P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

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