domingo, 25 de maio de 2025

Conto: Entre a Lua e o Coração

 


Havia uma aldeia escondida entre vales de névoa e bosques encantados, onde o tempo parecia dormir e os ventos sussurravam segredos antigos às árvores. Ali morava Lysandra, uma jovem de olhos da cor do entardecer e cabelos longos como as sombras do crepúsculo. Diferente das outras moças da aldeia, ela falava com as flores, escutava as estrelas e escrevia poemas com as pétalas das madrugadas. Sempre lhe disseram que ela sonhava demais, mas Lysandra acreditava em magia — acreditava no tipo de amor que só se encontra nos livros que dormem sob poeira dourada e promessas esquecidas.

Certa noite, sob a luz prateada da lua cheia, enquanto colhia lavandas para um feitiço de proteção, ela ouviu o lamento de uma criatura ferida. Seguindo o som, encontrou um lobo de pelagem negra como a meia-noite, com olhos que brilhavam como âmbar líquido. Havia dor em seu olhar, mas também havia algo mais — algo que fez o coração de Lysandra bater fora do compasso.

Sem medo, ela ajoelhou-se diante da criatura. Suas mãos, quentes e ternas, tocaram o flanco do lobo ferido, que a observou em silêncio, como se a conhecesse de outra vida. Naquela noite, ela o levou para sua casa na floresta e cuidou dele como se fosse parte de seu próprio destino.

Ao raiar do dia, o lobo havia desaparecido — e em seu lugar, dormia um rapaz de beleza quase mítica. Seus cabelos escuros repousavam sobre o travesseiro como sombras, e os olhos, ao se abrirem, mostraram-se idênticos aos do lobo.

— Quem é você? — perguntou Lysandra, a voz em sussurro, como quem teme acordar de um sonho.

— Thorne, filho da noite — respondeu ele, com um sorriso que parecia carregar séculos de solidão. — Um amaldiçoado... ou talvez apenas esquecido pelo tempo.

Thorne era um licantropo, amaldiçoado a viver entre dois mundos, sem pertencer a nenhum. Durante o dia, vagava pelas florestas com o coração humano, mas ao cair da noite, tornava-se fera, guardião solitário de segredos ancestrais.

Ao longo dos dias que se seguiram, Lysandra e Thorne partilharam histórias, risos e silêncios profundos. Ela lhe mostrou como escutar o vento, e ele lhe ensinou os caminhos secretos da floresta. Quando a lua cheia retornava, Thorne se escondia, temendo que a besta dentro de si pudesse um dia feri-la. Mas Lysandra não se afastava — esperava, velava, e escrevia poemas à luz da lua para lembrar-lhe que mesmo monstros merecem amor.

Certa noite, quando o inverno tocava os ramos com cristais de gelo, Thorne confessou-lhe seu maior medo:

— Eu te amo, Lysandra, mas meu amor pode ser maldição. E se um dia eu não conseguir conter a fera?

Lysandra tomou seu rosto entre as mãos e disse:

— Então serei flor entre teus dentes, vento que acalma tua fúria, canção que te lembra quem és. Porque mesmo na escuridão, Thorne, o amor ainda brilha.

Na lua cheia seguinte, algo mágico aconteceu. Enquanto o lobo uivava sob a luz prateada, Lysandra surgiu com uma coroa feita de flores lunares — uma guirlanda rara, nascida apenas da junção entre a lágrima de uma fada e o beijo de uma bruxa. Ela colocou a coroa sobre a cabeça do lobo, e o encantamento antigo se quebrou. Pela primeira vez, Thorne manteve-se homem mesmo sob a lua cheia.

Dizem que o amor de Lysandra foi mais forte que a maldição, e que a floresta inteira brilhou naquela noite como se todas as estrelas houvessem descido para celebrar. Thorne, liberto da fera, escolheu viver ao lado de Lysandra, e juntos construíram uma casa no coração da mata, onde os sonhos andam descalços e a lua é sempre bem-vinda.

E se você andar por aquelas trilhas encantadas em noites de luar, talvez ainda ouça a risada deles entre as árvores. Porque alguns contos de fadas não terminam com um “fim” — eles apenas continuam, entre a lua... e o coração.

P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.

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