As luzes da cidade sempre pareceram mais brilhantes para quem as vê de longe. Para Nathan Vega, vocalista da icônica banda de rock alternativo Black Void, elas já haviam perdido o brilho fazia tempo. Celebrado por sua voz rouca, letras cortantes e presença explosiva nos palcos, Nathan carregava uma sombra que nem os holofotes conseguiam dissipar: anos de autodestruição, noites mergulhadas em álcool, drogas e amores descartáveis.
Aos trinta e quatro anos, com discos de platina e escândalos nos tabloides, Nathan era um homem em ruínas que ainda conseguia fingir ser inteiro diante das multidões. Mas o palco, aquele altar onde ele gritava seus demônios, começava a se tornar pequeno demais para conter o vazio que crescia dentro dele.
Foi em um showcase intimista em São Paulo, parte da turnê latino-americana da banda, que sua vida deu um solavanco sem aviso.
Alyssa Campos — ou apenas Aly, como preferia ser chamada — não era o tipo de fã que colecionava pôsteres ou gritava na fila do camarim. Com vinte e dois anos, estudante de Letras e alma feita de poesia, ela acompanhava o trabalho da Black Void desde a adolescência. Suas canções a tinham ajudado a atravessar lutos silenciosos, madrugadas de insônia e a incompreensão de um mundo que parecia sempre corrido demais para quem amava devagar.
O showcase aconteceu em uma casa de shows pequena, com teto baixo e cheiro de madeira velha. Aly estava na terceira fileira, seu olhar fixo em Nathan. Mas não era o desejo de uma fã, era um olhar de quem via além da fumaça e da maquiagem borrada. Ela via o homem cansado por trás da lenda.
E Nathan viu isso.
Entre uma música e outra, seus olhos se prenderam aos dela. Não por acaso. Não como ele fazia com qualquer uma das garotas na plateia. Era diferente. Como se, ao encará-la, pudesse ver o reflexo de si mesmo, só que limpo, antes da queda.
Após o show, houve um rápido encontro com fãs selecionados. Quando ela entrou na sala, o ambiente mudou. Ele estava cercado por sua equipe, o cheiro de uísque barato ainda presente, mas tudo se calou por um instante.
— Qual o seu nome? — ele perguntou, como se ela já não o tivesse escrito em cada música que ouvia.
— Aly.
Ela sorriu, tímida. Um sorriso que não tinha artifício, só luz.
Eles conversaram por poucos minutos. Ele se esforçou para parecer descontraído, mas as palavras tropeçavam. Aly, embora fascinada, mantinha uma barreira invisível, e Nathan, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se nu diante de alguém.
Nos dias que se seguiram, ele tentou achá-la nas redes, mas ela parecia intocável, quase etérea. Começou a ir atrás dela como quem procura uma canção esquecida. Não conseguia mais tocar ninguém. As groupies que se ofereciam nos bastidores agora pareciam vazias, como copos após a festa.
Enquanto isso, Aly também pensava nele. Mas sua mente a traía com frases duras: “Ele é só mais um astro do rock. Vai te usar e jogar fora. Você não é diferente das outras, por mais que ele diga que sim.”
Mas ela era.
E Nathan sabia disso.
O destino, que às vezes gosta de brincar de dramaturgo, os uniu de novo em um café próximo à livraria onde Aly fazia estágio. Ele a viu sentada sozinha, lendo Sylvia Plath, e não resistiu.
— A vida é um buraco negro bonito, não é? — disse, apontando para a capa do livro.
Ela ergueu os olhos, surpresa.
— Você?
— Achei que tinha sonhado com você — ele disse, com um sorriso triste. — Mas você é real.
Conversaram por horas. Ela, reservada. Ele, honesto como nunca tinha sido. Contou sobre sua infância quebrada, sobre as internações, as recaídas, sobre como cada música que escrevia era uma tentativa desesperada de se salvar.
Aly se comoveu, mas ainda havia medo. Ela sentia algo por ele, mas se recusava a ser mais uma cicatriz em sua história. E então sumiu. Ignorou mensagens, evitou lugares, tentou esquecer aquele olhar cansado e doce.
Nathan, no entanto, permaneceu firme. Evitou os vícios, rejeitou convites fáceis, mudou sua rotina. Começou terapia, retomou a música com um novo olhar. Escreveu uma canção chamada “Inocente & Incandescente”, e nela, Aly estava em cada verso.
O clímax da história chegou em uma noite chuvosa, semanas depois.
Aly saía da faculdade quando um colega insistente — um daqueles tipos sorridentes demais para serem sinceros — tentou beijá-la à força. Ela tentou recuar, mas o cara a segurou pelo braço, pressionando-a contra o muro do estacionamento vazio.
Foi quando uma figura surgiu da escuridão.
Nathan o afastou com um empurrão e um soco rápido, resultado de uma fúria contida que não tinha nada de performática. O outro caiu no chão, atônito, enquanto Aly, trêmula, respirava com dificuldade.
— Tá tudo bem agora — ele disse, aproximando-se devagar, com um cuidado que doía.
Ela o olhou, os olhos marejados. Não disse nada. Apenas o abraçou. Forte. Como se segurasse uma parte de si que ainda não sabia que existia.
Naquela noite, Aly finalmente entendeu.
Nathan não queria apenas possuí-la. Ele queria ser melhor por causa dela.
E ela, cansada de fugir da própria vontade, resolveu acreditar.
Hoje, eles não têm uma história perfeita. Ainda há sombras, medos, recaídas. Mas há também composições a quatro mãos, manhãs silenciosas com cheiro de café e tardes em que ela lê em voz alta enquanto ele dedilha acordes no violão.
Porque o amor não salvou Nathan. Mas o fez querer se salvar.
E isso, talvez, seja o mais próximo da redenção que alguém como ele poderia alcançar.
P.S: Essa Fanfic conto, crônica ou qualquer nome que você queira dar, ou eu chama-la é criação minha. Por favor respeito os direitos autorais dela.
Nenhum comentário:
Postar um comentário